Acordei assustado hoje com alguém me chamando. Ao abrir os olhos no quarto escuro, enxerguei um vulto parado ao lado da minha cama, que em poucos segundos foi dissipando-se enquanto meu coração acelerava em pânico.
Não foi a primeira vez que algo assim aconteceu comigo, e estando no quarto ali sozinho, eu já sabia que não me restava muito o que fazer a não ser me acalmar e tentar dormir novamente. Entretanto, dessa vez foi diferente, passado o susto inicial, percebi que lágrimas escorriam pelo meu rosto e como em um flashback, lembrei do que havia “vivido” alguns minutos antes de acordar.
Em um dia agradável, sentados na calçada, eu me vi de frente com a minha querida mãe, e enquanto eu admirava a sua face serena, uma terceira pessoa falava sobre a fragilidade da vida humana. Com a voz suave e límpida, minha mãe concordou com o que esta pessoa falava e complementou com algo sobre como era estar “vivo” do outro lado. E neste momento assimilei o que estava acontecendo: um de nós não deveria estar ali naquele lugar.
Enquanto ela ainda falava, peguei nas mãos dela e senti algo que jamais poderei descrever em palavras. Mesmo agora, quando fecho meus olhos, consigo sentir aquela forte sensação inexplicável de estar ali de frente para ela ouvindo-a falar.
Sem saber exatamente o que estava acontecendo, mas feliz por estar ali, comecei a cantarolar baixinho uma música que já nas primeiras palavras minha mãe parou para prestar atenção. Não lembro qual era a música, mas sei que era uma da qual nós dois gostávamos, e em algum trecho dela minha mãe me reconheceu e pulou na minha direção para me abraçar. Enquanto as lágrimas rolavam, senti o abraço apertado dela e tive a sensação de que estávamos caindo, mas ela não soltava de mim.
Quando parei de cair percebi que estava deitado e comecei a ouvir duas pessoas falando sobre mim. Tentei fingir que estava dormindo para elas irem embora, mas uma delas disse que eu devia acordar naquele momento, e a outra pessoa aproximou-se de mim e começou a chamar por meu nome. Foi quando acordei hoje às 5h da manhã com um vulto ao lado da minha cama.
Após os segundos de aflição que pareceram horas, comecei a pensar em alguém que pudesse compartilhar comigo essa angustia e me ajudar com essa situação, mas o que aconteceu em seguida foi que comecei a chorar muito emocionado ao lembrar dos momentos “vividos” ali. Apesar de todo o medo que estava sentindo, fiquei feliz por ver que minha mãe estava bem e que não estava triste comigo.
Em outra situação eu poderia considerar que foi apenas um sonho, mas raramente lembro de sonhos no dia seguinte, e foi tão forte a sensação de segurar as mãos da minha mãe que eu não posso acreditar que não tenha sido “real”. Por essa razão levantei mais do que depressa e fui escrever o que tinha acabado de acontecer, e antes de voltar para a cama novamente me dei conta de que há exatamente cinco meses, na mesma hora do meu “sonho”, a minha mãe estava partindo.